10.30.2015

VENTANIA


Vento desastroso
Levanta saias,
Levanta platéias

Sacode poeira,
Folhas de goiabeira

Derruba castelos de cartas,
Casinhas de lata

Espalha cheiro de chulé,
Cheiro de café

Desmancha penteados,
Desmancha telhados

Arrasta papel,
Plástico,
Pano,
Pena,
Pêlo,
Moleque magrelo

Atrapalha a vista,
Engana o meteorologista

Prenuncia temporais,
Lama nos quintais

Assovia na curva,
Assusta a viúva

Apaga vela na pia
Arrepia

(JORGE AMÉRICO )

10.23.2015

O que você lê se transforma em você

O que significa curtir uma postagem? Você não é a mesma pessoa desde que começou a ler isto. Vamos nos modificando. E sermos pessoas melhores depende do que estamos deixando que tenha passagem livre através de nossas janelas.

Essa frase me ocorreu outro dia. E ela quer dizer muito. “Ler” aqui não significa apenas o ato de pegar um texto e decodificá-lo através da leitura. Trata-se das ideias que você concebe para si, dos aprendizados e experiências.
file0001052648856.jpg
Com o advento do Face, nós nos acostumamos a “curtir” alguma coisa que publicam, mas ainda não temos a chance de “não curtir” da mesma forma o que não gostamos, pois não há a mãozinha sinalizando o polegar para baixo (dizem que já existe por aí).
file9001323809993.jpg
Bem, porém, aquilo que lemos, ou a imagem que vemos antes de clicar em curtir precisa achar consonância, em nós, com o que concordamos sobre determinado assunto. Ou mesmo, com aquilo que achamos engraçado Quando nos identificamos com algum tipo de leitura, filme, ambiente, jeito de ser, etc, isso diz muito sobre a nós. Não é à toa que tendemos a nos aproximar de quem tem gostos parecidos com os nossos.
file9411297741246.jpg
Parece brincadeira, mas tudo o que aprendemos se transforma em nós. Por isso o título dessa pequena reflexão. Nosso cérebro vai criando novas conexões, à medida do nosso aprendizado e experiências. Por isso, ao meu ver, seja tão importante ler sobre vários assuntos. Mas, procurar uma linha de raciocínio o mais próximo da verdade, da realidade, mais coerente. Algo do tipo “matemático”, onde as premissas precisam dizer muito das conclusões. Como?
file000166859946.jpg
Procurando conhecer quem escreveu tal livro, disse tal coisa, ou dirigiu tal filme e em que circunstâncias isso aconteceu. Suas convicções, seu ponto de vista sobre assuntos importantes. Todos têm algo bom a ensinar. Mas, o assunto principal em pauta é o que importa na sua escolha.
file0001604274896.jpg
É como uma ideia que se multiplica e que acaba sendo absorvida por muitos sem questionamento. Esse é o perigo de algumas ideologias. Quando entramos em uma discussão com “quem entende do assunto”, é importante tentarmos enxergar os vários pontos de vista entre os especialistas. A partir daí, vamos construindo nossa própria opinião.
file00098900520.jpg
Irão surgir dúvidas. Que elas surjam! Pois, é a partir delas que podemos formular uma “certeza”. As certezas não precisam ser fechadas em si mesmas, para não corrermos o risco de nos tornarmos “convictos” em tudo e não darmos espaço para questionamentos, nem ao menos, sabermos defender nossa opinião. Não!
1381321330jyr3x.jpg
Por mais que se tenha certeza de algo, depois de estudar, questionar, tirar dúvidas, é importante saber ouvir. Quem é “convicto” nunca cresce, pois acha que já sabe o suficiente. Nunca se sabe o suficiente. Daí, a Pesquisa estar sempre aberta a novas descobertas, por exemplo. As Teorias, vez ou outra, sofrem modificações. As doutrinas são revisadas. Os alicerces são fortalecidos.
1441227564ctowv.jpg
Porém, isso não quer dizer dar bolas para qualquer tipo de fala. Não! Quando perceber que se trata de algo que já está bem acomodado e que aquilo é, na realidade, uma etapa anterior à que você se encontra, não dê atenção. Por exemplo, quando você vê o refrigerante como algo delicioso que parece matar a sede e cai bem em qualquer lanche, você nem ao menos questiona o que está bebendo, apenas vive o momento.
142199403720zkv.jpg
Até que um dia, por curiosidade, ou necessidade, você acaba tendo de procurar saber um pouco mais. E fica sabendo dos ingredientes, das consequências do excesso de uso, etc. Você passa a enxergar o refrigerante com outros olhos e, muitas vezes, até decide não beber mais. Se alguém chega para você e argumenta que não há outra bebida mais deliciosa para se ter em um lanche com os amigos e se a pessoa não tem a menor noção de que é feito um refrigerante, você pode descartar tal argumentação feita pela pessoa, pois já haverá passado por ela e se aprofundado um pouco mais.
file5491276012484.jpg
Claro, se a pessoa quiser saber, você pode orientá-la, senão, deixe quieto. Que ela aprenda por si mesma. Mas, com certeza, você terá deixado uma pulga atrás de sua orelha.
file8411260069817.jpg
É assim em vários assuntos, em tudo. Não basta saber por saber, crer por crer, gostar por gostar, é preciso ter argumentos, mesmo que sejam para si próprio. Daí, você não ficará tremendo à menor ventania. É preciso estudar, ler, ouvir, ver outros pontos de vista. Isso é crescer intelectualmente, também.
file0002139337140.jpg
Aquilo que vai se transformando em nós, também vai definindo nossos pontos de vista, nossas escolhas. Não aceite apenas algo pronto. Tente entender como tal coisa foi feita. Dá um pouco de trabalho sim. Mas, depois que se começa a refletir, passa-se a exercer cidadania, a perceber que por mais que pareça pouco, o que você fizer pelo bem precisa ser feito mesmo assim. Há toda uma indústria de marketing que tenta dizer o contrário e convence pela borda.
1384809572pzb6f.jpg
Mas, no que depender de você: procure boas leituras, faça boas escolhas. Elas serão você. Isso é ser livre. Ah, e quando descobrir que está errado sobre algo, tenha a humildade de reconhecer. Os verdadeiros sábios são simples.

© obvious: http://obviousmag.org/

10.19.2015

Vamos falar sobre fobia social?



Quando a timidez é tão exacerbada a ponto de prejudicar o cotidiano do indivíduo, torna-se patológica e recebe o nome de fobia social. Você já ouviu falar nesse transtorno de ansiedade?



Às vezes, você vê por aí alguém que fala tão pouco que, mesmo com uma possível convivência diária, não se sabe quem ele realmente é. E você percebe que ele se esquiva e é tão escorregadio quanto uma pista de gelo. Toda vez que um indivíduo tenta se aproximar, essa criatura das cavernas se retrai e se esconde. E você constata, também, que ela tem dificuldades para fazer coisas simples, como falar ao telefone ou pegar a pizza pedida pelo delivery. “Que pessoa estranha!”, todos pensam, enquanto apontam o dedo julgador, sem notar o quanto ela, mais do que ninguém, necessita de sua compreensão.
Todos nós conhecemos a timidez, e a consideramos, até certo ponto, “bonitinha” e graciosa. A timidez pode ser vista não necessariamente como uma qualidade, mas como uma simples característica. No entanto, quando em alta concentração, passa a ser uma patologia com nome e sobrenome: transtorno de ansiedade social, vulgo fobia social.
A fobia social é uma falha no sistema cognitivo do indivíduo com relação às interações sociais. Ao se deparar com uma situação em que tenha que lidar com outras pessoas, o fóbico percebe um perigo muito maior do que aquele que, de fato, existe. As zonas do cérebro responsáveis por nos alertar dos riscos e das ameaças, no fóbico, são acionadas frente a uma situação social, causando nele medo e ansiedade intensos, ao ponto de gerarem sintomas físicos, como tremor, sudorese, enjoo e confusão.
fs2.jpg
Aqueles que são acometidos pelo transtorno de ansiedade social geralmente possuem pensamentos pessimistas, que, aliados aos sintomas físicos da fobia, levam o indivíduo a evitar ao máximo as situações que lhe causam a ansiedade. Assim, os fóbicos demonstram uma tendência ao isolamento: não frequentam festas ou baladas, não têm muitos amigos e desistem de possuir uma vida amorosa.
Tal comportamento gera uma grande dificuldade de criar laços afetivos, sejam eles de amizade ou amorosos. Os fóbicos são muito caseiros, o que se torna um obstáculo para conhecer novas pessoas. Mesmo nos ambientes frequentados por eles, podem se sentir desconfortáveis com os colegas por conta de comentários preconceituosos e debochados a respeito de sua conduta. Dessa maneira, isolam-se cada vez mais.
fs1.png
Os fóbicos sociais, por vezes, têm uma autoestima bem problemática. Eles não se acham capazes de enfrentar as situações temidas. É por isso que alguns abandonam completamente o estilo de vida considerado normal pela sociedade: deixam de frequentar a escola ou a faculdade por medo das apresentações de trabalhos e da interação com os colegas, desistem de arrumar um emprego por temer as etapas de seleção e se considerar inaptos, se autodeclaram celibatários pela ansiedade que o objeto de desejo lhes causa.
Grande parte desses indivíduos tem consciência de que seus pensamentos negativos e medo são infundados e irracionais, mas não conseguem lutar contra eles sozinhos, porque não é fácil combater um monstro invisível. Não é frescura. Não é mimimi. Esse transtorno é sério e precisa de tratamento.
A fobia social pode ser tratada por meio de remédios, como ansiolíticos e antidepressivos, e de terapia ou psicanálise. O tratamento mais adequado é a terapia cognitivo comportamental, que busca atingir o foco do problema em vez de buscar suas causas.
Se você conhece alguém com as características descritas nesse artigo, não o julgue. Não faça chacota. Não deboche de suas poucas palavras. Tente ajudá-lo. Tenha paciência. Chame-o para sair, por mais que ele rejeite seus convites. Ele não é metido nem arrogante. Ele tem um problema que precisa ser tratado. E, durante o tratamento, toda a compreensão daqueles que o cercam é necessária como um incentivo para que ele continue lutando.



© obvious: http://obviousmag.org/
 

10.06.2015

Um filho, no dia do Pai...


 
Filho...
Se tu tivesses um filho?
Se tu fosses sentimental, agarrado ás raizes, aos principios que te ensinaram?
Sim, se tu tivesses tudo isso e os perdesses???
Se perdesses todos os rumos, todas as rotas, todos os interesses primarios duma regra, duma vida???

Eis que de repente.. os encontras.
Eis que de repente e por obra do acaso, tudo se torna colorido e belo, perfumado.
A vida renasce.

Oh, de novo, nãooooo.
Perdeste tudo de novo...
Tinhas tudo nas suas mão e perdeste, tiraram-te de novo o filho, a saúde e quase a vida.
Os principios esses?? Não, esses nunca...
Voltaste ao vazio.. mas os principios não, esses, nunca irão.

Se soubessem, as pessoas, algumas pessoas, muitas pessoas... o mal que propagam, ao fazer mal ...

De novo o filho reaparece e tu, ja ´não acreditas, pra ti, já nada te move como antes, o teu esforço, será para que tudo nao fique pior, desinteressadamente, esperando o momento em que acabe de novo.
Em que venha de novo a perda...

E ela vem, sem anunciar data nem hora... simplesmente acontece.
E tu perdes de novo, os restos que te sobraram, por via da tua resistencia em nao abandonar, quem te abandonou a ti, aos teus...

Mas mesmo perdendo... amarás.
Porque és PAI.

                                                                                       
                                                                                                                         Espirito Santo

Sporting...

O Sporting olha para a frente e não vê ninguém. 

 Olha para trás e é só malta a gritar «Paga o que deves!».

Passaram 40 anos...

“NÃO, NÃO ESTOU VELHO!!!!!! NÃO SOU É SUFICIENTEMENTE NOVO PARA JÁ SABER TUDO!

Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril.

E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero morrer sem ver a cor da liberdade.
Passaram quatro décadas e de súbito os portugueses ficam a saber, em espanto, que são responsáveis de uma crise e que a têm que pagar…. civilizadamente, ordenadamente, no respeito das regras da democracia, com manifestações próprias das democracias e greves a que têm direito, mas demonstrando sempre o seu elevado espírito cívico, no sofrer e  Calar.

Sou dos que acreditam na invenção desta crise.
Um “directório” algures decidiu que as classes médias estavam a viver acima da média. E de repente verificou-se que todos os países estão a dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no nosso vocabulário e invadiu o dia a dia.

Serviu para despedir, cortar salários, regalias/direitos do chamado Estado Social e o valor do trabalho foi diminuído, embora um nosso ministro tenha dito decerto por lapso, que “o trabalho liberta”, frase escrita no portão de entrada de Auschwitz.
Parece que alguém anda à procura de uma solução que se espera não seja final.
Os homens nascem com direito à felicidade e não apenas à estrita e restrita sobrevivência.
Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos ficaram com muito menos do seu contrato com o Estado que se comprometia devolver o investimento de uma vida de trabalho. Mas, daqui a 20 anos isto resolve-se.

Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro entre os medicamentos e a comida.
E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos num exercício de gestão impossível.
A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem diariamente o milagre da multiplicação dos pães.

Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo cheiro, os passes sociais impedem-nos de sair de casa, suicidam-se mais pessoas, mata-se mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos mancham-se de sangue , 5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta que há cursos superiores de geração espontânea, mas 81.000 licenciados estão desempregados.

Milhares de alunos saem das universidades porque não têm como pagar as propinas, enquanto que muitos desistem de estudar para procurar trabalho.
Há 200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola Dourada” faz um milhão de espectadores.
Há terras do interior, sem centro de saúde, sem correios e sem finanças, e os festivais de verão estão cheios com bilhetes de centenas de euros.
Há carros topo de gama para sortear e auto-estradas desertas. Na televisão a gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente a revelar histórias de vida que exaltam a boçalidade.

Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os campos, mas há as grandes vitórias da venda de dívida pública a taxas muito mais altas do que outros países intervencionados.

Há romances de ajustes de contas entre políticos e ex-políticos, mas tudo vai acabar em bem…estar para ambas as partes.

Aumentam as mortes por problemas respiratórios consequência de carências alimentares e higiénicas, há enfermeiros a partir entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha para ganharem muito mais do que 3 euros à hora, há o romance do senhor Hollande e o enredo do senhor Obama que tudo tem feito para que o SNS americano seja mesmo para todos os americanos. Também ele tem um sonho…

Há a privatização de empresas portuguesas altamente lucrativas e outras que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser, porque é que se vendem?
E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à francesa.
Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o rabo de fora.

E aprendemos neologismos como “inconseguimento” e “irrevogável” que quer dizer exactamente o contrário do que está escrito no dicionário.

Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara lenta, muito lenta e muito discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós, distraídos.

E agora, já quase todos sabemos que existiu um pintor chamado Miró, nem que seja por via bancária. Surrealista…

Mas há os meninos que têm que ir à escola nas férias para ter pequeno- almoço e almoço.
E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a fome , envergonhadamente , matar a fome dos seus meninos.

É por estes meninos com a esperança de dias melhores prometidos para daqui a 20 anos, pelos velhos sem mais 20 anos de esperança de vida e pelos quarentões com a desconfiança de que não mudarão de vida, que eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.

"Júlio Isidro”