Quando a timidez é tão exacerbada a ponto de prejudicar o cotidiano do indivíduo, torna-se patológica e recebe o nome de fobia social. Você já ouviu falar nesse transtorno de ansiedade?
Às vezes, você vê por aí alguém que fala tão pouco que, mesmo com uma possível convivência diária, não se sabe quem ele realmente é. E você percebe que ele se esquiva e é tão escorregadio quanto uma pista de gelo. Toda vez que um indivíduo tenta se aproximar, essa criatura das cavernas se retrai e se esconde. E você constata, também, que ela tem dificuldades para fazer coisas simples, como falar ao telefone ou pegar a pizza pedida pelo delivery. “Que pessoa estranha!”, todos pensam, enquanto apontam o dedo julgador, sem notar o quanto ela, mais do que ninguém, necessita de sua compreensão.
Todos nós conhecemos a timidez, e a consideramos, até certo ponto, “bonitinha” e graciosa. A timidez pode ser vista não necessariamente como uma qualidade, mas como uma simples característica. No entanto, quando em alta concentração, passa a ser uma patologia com nome e sobrenome: transtorno de ansiedade social, vulgo fobia social.
A fobia social é uma falha no sistema cognitivo do indivíduo com relação às interações sociais. Ao se deparar com uma situação em que tenha que lidar com outras pessoas, o fóbico percebe um perigo muito maior do que aquele que, de fato, existe. As zonas do cérebro responsáveis por nos alertar dos riscos e das ameaças, no fóbico, são acionadas frente a uma situação social, causando nele medo e ansiedade intensos, ao ponto de gerarem sintomas físicos, como tremor, sudorese, enjoo e confusão.
Aqueles que são acometidos pelo transtorno de ansiedade social geralmente possuem pensamentos pessimistas, que, aliados aos sintomas físicos da fobia, levam o indivíduo a evitar ao máximo as situações que lhe causam a ansiedade. Assim, os fóbicos demonstram uma tendência ao isolamento: não frequentam festas ou baladas, não têm muitos amigos e desistem de possuir uma vida amorosa.
Tal comportamento gera uma grande dificuldade de criar laços afetivos, sejam eles de amizade ou amorosos. Os fóbicos são muito caseiros, o que se torna um obstáculo para conhecer novas pessoas. Mesmo nos ambientes frequentados por eles, podem se sentir desconfortáveis com os colegas por conta de comentários preconceituosos e debochados a respeito de sua conduta. Dessa maneira, isolam-se cada vez mais.
Os fóbicos sociais, por vezes, têm uma autoestima bem problemática. Eles não se acham capazes de enfrentar as situações temidas. É por isso que alguns abandonam completamente o estilo de vida considerado normal pela sociedade: deixam de frequentar a escola ou a faculdade por medo das apresentações de trabalhos e da interação com os colegas, desistem de arrumar um emprego por temer as etapas de seleção e se considerar inaptos, se autodeclaram celibatários pela ansiedade que o objeto de desejo lhes causa.
Grande parte desses indivíduos tem consciência de que seus pensamentos negativos e medo são infundados e irracionais, mas não conseguem lutar contra eles sozinhos, porque não é fácil combater um monstro invisível. Não é frescura. Não é mimimi. Esse transtorno é sério e precisa de tratamento.
A fobia social pode ser tratada por meio de remédios, como ansiolíticos e antidepressivos, e de terapia ou psicanálise. O tratamento mais adequado é a terapia cognitivo comportamental, que busca atingir o foco do problema em vez de buscar suas causas.
Se você conhece alguém com as características descritas nesse artigo, não o julgue. Não faça chacota. Não deboche de suas poucas palavras. Tente ajudá-lo. Tenha paciência. Chame-o para sair, por mais que ele rejeite seus convites. Ele não é metido nem arrogante. Ele tem um problema que precisa ser tratado. E, durante o tratamento, toda a compreensão daqueles que o cercam é necessária como um incentivo para que ele continue lutando.
© obvious: http://obviousmag.org/
Sem comentários:
Enviar um comentário